Prosseguindo o seu propósito de pensar as palavras e os conceitos com que o nosso tempo se pode dizer, a Electra faz da Velocidade o Assunto do seu número 9.
Entre os vários nomes usados para designar a sociedade contemporânea, um dos mais convenientes é o de sociedade da velocidade. A aceleração técnica da modernidade, que nos tempos mais recentes, com a informática e as tecnologias digitais, chegou a um estádio extremo, tornou-se o fenómeno mais determinante tanto das transformações sociais e económicas, como das mutações culturais que configuram as nossas formas de vida. “No nosso século, a velocidade não parou de aumentar e a aceleração de crescer. Essa grandeza tomou conta de tudo: dos trabalhos e dos dias, dos ócios e dos prazeres, das angústias e das expectativas. A velocidade mudou e determinou tudo: a política e a comunicação, a economia e a sociedade, a ciência e a cibernética, a arte e o amor, a comida e o sono, a doença e a saúde, a vida e a morte.”, lê-se no editorial da revista. A velocidade é um fenómeno social total.
Esta edição estava preparada quando o mundo desacelerou devido à pandemia da covid-19. E também esta pode ser olhada do ponto de vista da velocidade, seja pela sua propagação acelerada e global e pela desaceleração do contacto, seja pela suspensão que provocou e pela corrida desenfreada para lhe encontrar um antídoto.
O tema da Velocidade é, com perspectivas diversas, pensado neste dossier, que inclui já uma reflexão actualizada e muito original sobre a pandemia. Para isso, esta edição conta com a colaboração de reconhecidos autores, em cujas obras a Velocidade tem sido um tópico motivador de análise e reflexão: François Hartog, Frédéric Neyrat, Yves Citton, Laurent de Sutter, Federico Leoni, Aurélien Barrau, António Guerreiro e João Pacheco.
Deve uma obra literária ou artística ver-se limitada por razões éticas e políticas?” é a interrogação que dá o mote à secção Diagonal. A esta pergunta, suscitada pela polémica em torno da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Peter Handke, que fez publicamente a defesa do presidente sérvio Milosevic, respondem João Barrento, crítico, ensaísta e tradutor, e Michel Surya, escritor e director da revista francesa Lignes. No cruzamento de argumentos e razões, passa a sombra de algumas dos grandes debates dos últimos séculos e jogam-se noções e valores tão fundamentais como liberdade, criação, ética, estética, responsabilidade.