POVO
Museu da Electricidade
18 jun - 19 set 2010
De que falamos quando falamos de POVO? Este é o ponto de partida desta exposição, que propõe uma viagem pelos múltiplos sentidos deste conceito e da palavra que o nomeia.
PUEBLO, POPPOLO, VOLK, PEUPLE, PEOPLE, POVO, etc.: em todas as línguas, o conceito atravessa os domínios da política, da cultura, da sociedade, da economia. É sobre este fundamento que o poder se constitui e legitima. E é também em nome do POVO que muitas vezes se erguem as contestações ao poder. É a partir dele que se constroem discursos e obras, criando, garantindo ou questionando a tradição e a história.
Se declinarmos a palavra nos seus sinónimos – população, plebe, proletariado, massas, multidão – vemos como se evidencia o seu significado social. Em Portugal, ao longo das últimas décadas, com a democratização política, a massificação do consumo e novos processos de internacionalização, habituámo-nos a falar de sociedade civil, de classes médias, de cultura de massas, de cultura Pop – e já não tanto de vontade popular, de camadas populares ou de cultura popular.
Mas, afinal, esses são apenas outros nomes do POVO. Palavra revolucionária, radical, conservadora e reacionária, segundo o seu uso e apropriação foi bendita e maldita, sacralizada e profanada, desejada e temida, afirmada e negada, defendida e traída. Palavra que gera amores e ódios, juras e perjúrios, guerras e concórdias, discórdias e alianças, heroísmos e martírios. Por ela, viveram e morreram homens e mulheres, indivíduos e povos. Das palavras humanas, esta é uma das mais sonhadas, das mais caladas, das mais gritadas.
Esta exposição olha a história do POVO a partir da sua atualidade. Olha a sua passagem de objeto a sujeito, de particular a universal, de súbdito a soberano. Usa vários media e diversos códigos. É feita de imagens, ideias, sons, palavras, vozes, objetos, memórias, esquecimentos, desejos, interpretações, respostas, perguntas. Mostra o individual e o coletivo, o erudito e o popular, o simbólico e o imaginário, o corpo e o espírito. Recolhe traços de grandes movimentos sociais e vestígios de pequenas lutas populares, mas também os sinais da transformação do trabalho, do lazer, do consumo, da cultura, da comunicação – da vida.
É uma exposição aberta no tempo e no espaço. Trata do passado a partir do presente – e, a partir dos dois, olha o futuro. Pensa Portugal a partir do Mundo global – e o Mundo global a partir de Portugal. A nossa cronologia viaja de hoje para ontem, da Grécia em crise do século XXI à Grécia em apogeu, do século V a.C., que inventou a ideia de governo do POVO, a Democracia. A exposição não termina onde acaba. O POVO é um alvo em movimento, que procura sempre escapar à imagem que o cristaliza – que o identifica, simboliza, celebra, expõe, processa, explora, classifica. É um jogo em que a realidade e a sua representação se encontram, desencontram, fintam, desmarcam, atraem, repelem.
Com esta exposição sobre o POVO, afirma-se que a República, no seu centenário, não pode esquecer a fidelidade a um nome que é inseparável do seu. O POVO que aqui se expõe espera o POVO que aqui vem – um é o espelho do outro.
A Exposição POVO organiza-se por oito núcleos temáticos. A cada núcleo corresponde uma arquitetura específica, uma frase identificadora e um texto introdutório. São as seguintes essas frases e as áreas temáticas a que correspondem, estabelecendo o percurso da exposição:
- Vamos ver o POVO (galeria de retratos)
- O POVO é que mais ordena (política)
- Diz-me quem és (identificação e cadastros)
- Ganharás o pão com o suor do teu rosto (trabalho)
- Casas do Povo (habitação)
- Queres fiado? Toma! (consumo)
- Se isto não é o POVO, onde é que está o POVO?! (sociabilidade)
- POVO, POVO, eu te pertenço (povo global)
Para ver no Museu da Electricidade entre 19 de junho e 19 de setembro de 2010.