2016
Artur Barrio
Júri
António Mexia
Pedro Gadanho
João Pinharanda
Hans Ulrich Obrist
Suzanne Cotter
Chus Martinez
Emília Tavares
Nuno Crespo
A Fundação EDP consagra o artista plástico português Artur Barrio com o Grande Prémio Fundação EDP Arte 2016, uma eleição que reuniu unanimidade do júri internacional. “Atitude é um conceito chave no trabalho de Artur Barrio. O que está presente nessa palavra – que ele transformou vezes sem conta nos seus trabalhos, situações e performances – é uma noção do pessoal, da reação individual às circunstâncias, ao nosso tempo”, realça Chus Martinez, curadora e diretora do Institute of Art da FHNW Academy of Art and Design em Basel e um dos membros do júri.
No ADN da obra de Artur Barrio consta a utilização de materiais efémeros e inesperados como café, sangue ou carne, criando experiências que envolvem o público e provocam reações extremas. Exemplo do poder do artista de transformar o espetador em testemunha foi a sua intervenção intitulada Trouxas Ensanguentadas, que se tornou numa referência da arte contemporânea no Brasil e da luta contra a repressão da ditadura brasileira. A intervenção consistiu na colocação de sacos com materiais orgânicos e dejetos dando a impressão de que se tratavam de corpos ensanguentados. Entre outros momentos, Barrio fez esta intervenção durante a coletiva Do Corpo à Terra, no Parque Municipal de Belo Horizonte (Minas Gerais), em 1970, tendo atirado 14 trouxas ao rio Arrudas.
“As atitudes são também a produção de um exílio humilde, uma forma de reagir à impaciência da história, de produzir pensamento através de um gesto de retirada, ceticismo, de desconectar crítico. Esta é uma das mais notáveis contribuições da obra de Artur Barrio. Independentemente do quão longe ele esteve de nós, de ‘casa’, o seu trabalho estava lá para se dirigir a nós, para enriquecer e libertar a própria noção de casa e de identidade. Artur Barrio, por isso, sempre teve um ‘pé’ no futuro”, assinala ainda Chus Martinez.
Com a atribuição do Grande Prémio Fundação EDP Arte 2016, Artur Barrio será homenageado através de uma exposição de caráter retrospetivo e/ou antológico, com a publicação de um catálogo que constitui uma importante referência historiográfica e bibliográfica, bem como com a atribuição do valor pecuniário de 50 mil euros.
Biografia
Desde 1945, ano do seu nascimento, até 1955, ano da sua viagem sem retorno até ao Brasil, bebeu de vísceras portuguesas na cidade do Porto. Artur Alípio Barrio de Sousa Lopes foi o jovem que aos 22 anos provocou o mundo com atos, apelos, interferências, sinónimos repetidos das dúvidas lançadas sobre o que era, afinal, a arte no início dos anos 60.
Na Escola Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro, os seus cadernos livres de registos e anotações datadas de 1969 delineavam o afastamento do tradicional com que até então trabalhara. Começa por criar as Situações não cedo demais – aos 24 anos; obras feitas a cru, com lixo, materiais orgânicos (papel higiénico, detritos humanos, carne em decomposição, etc.) e outros objetos fora do convencional, deixadas em espaços urbanos a cargo de quem as via.
Contra as categorias da arte e a situação política e social brasileira, Barrio lança, em 1970, 14 trouxas ensanguentadas com carne, ossos e sangue ao rio Arrudas durante a coletiva Do Corpo à Terra. Um dos vários exemplos que tornavam a sua caracterização cada vez mais difícil.
Em 74 visita Portugal e presencia a Revolução dos Cravos. Realiza situações como 4 Movimentos e 4 Pedras, e a escultura Metal/Sebo Frio/Calor. Também nessa época, faz performances, esculturas, livros e cadernos de artista e expõe as obras desta série na 17.ª Bienal Internacional de São Paulo. Os anos 2000 trazem-no de volta à Invicta, onde expõe em nome individual – Regist(R)os, no Museu de Arte Contemporânea de Serralves. Em 2011, foi o único representante do Brasil na 54.ª Bienal de Veneza.
Mais de 40 anos dedicados à arte da apropriação e ao envolvimento psicológico: uma carreira devota à prática artística, reconhecida em 2011 com o Prémio Velázquez de Artes Plásticas e com o Grande Prémio Fundação EDP Arte em 2016.