Qual é a fama do nosso tempo? E que famosos são estes e são estas que, hoje, querem impor a imagem, fazer a moda, servir de modelo? A fama, tema do dossier do número 11 da Electra, é hoje, na sociedade da comunicação generalizada, uma aspiração que não precisa de ser justificada por feitos ou obras de exceção porque aparecer e ser conhecido em larga escala se tornou um fim em si mesmo. Famosos, celebridades, vedetas, estrelas: eis uma vasta constelação de figuras da fama, verdadeiros atores sociais que atravessam hoje o nosso universo com uma grande velocidade e de maneira efémera. As regras e os fatores da fama e da celebridade ao longo da história são determinados pela estrutura do espaço público e pelos códigos e técnicas de socialização. Assim, a televisão, com todo o seu poder de criar e difundir uma imagem, determinou uma nova época na história da fama que ainda não chegou ao fim, muito embora conte hoje com a fortíssima concorrência da Internet e das redes sociais que introduziram novas regras na forma e na frequência da difusão que constrói a fama. Para trás, sujeitas a formas de legitimação que perderam muita da sua força, ficaram o prestígio, o reconhecimento e a autoridade — figuras que partilhavam com a fama um espaço comum.
Este dossier reúne textos de Mario Pezzella, Laurent de Sutter, Éric Marty, João Pacheco, Rita Figueiras, Robert van Krieken, e Barry King e António Guerreiro, e é ilustrado por imagens de Julia Wachtel e Andy Warhol.
Na secção “Primeira Pessoa”, o historiador indiano Dipesh Chakrabarty, figura eminente dos estudos pós-coloniais e autor do livro Provincializing Europe, que teve uma forte repercussão internacional, é entrevistado pelos historiadores José Neves e Marcos Cardão.
Kara Walker, uma das mais destacadas artistas contemporâneas, é a autora do Portfolio desta edição de Electra. Partindo de questões como as de género e de identidade, ou de temas como os do racismo e da violência, este trabalho artístico olha-os nas suas complexidades e contradições. As obras apresentadas (desenhos a tinta, grafite e aguarela, colagens em papel, recortes), que são acompanhadas por um texto de Sofia Steinvorth, foram escolhidas pela artista a partir do seu arquivo pessoal.
Na secção “Furo” são reveladas obras inéditas de uma das mais reconhecidas fotógrafas da atualidade, a sul-africana Jo Ractliffe. São fotografias feitas em Angola, numa geografia que vai do porto de Luanda ao bairro da Boavista e ao mercado Roque Santeiro. Num ensaio escrito para esta edição, Afonso Dias Ramos apresenta a artista e o trabalho que destinou a Electra.
Na 11.ª edição de Electra, Luiz Feldman, professor e diplomata brasileiro, analisa e põe em confronto visões do Brasil pensadas pelo sociólogo Gilberto Freyre e pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda; a jornalista e escritora italiana, Cristina Battocletti, traça um retrato de Robert Bazlen, fundador da editora Adelphi, tradutor, escritor quase sem obra, que se tornou uma figura de culto, e visita a cidade natal deste autor, Trieste, berço de um ambiente cultural e literário de extraordinária riqueza; o poeta Manuel de Freitas comenta uma crónica de Fernando Pessoa sobre a celebridade; realizador Anthony El Chidiac, escreve sobre o amor e o sexo, a liberdade e a ameaça, a vida e a morte, num diário que anda entre o Líbano e a Argentina; a historiadora e investigadora Júlia Leitão de Barros revisita a Exposição do Mundo Português, realizada em 1940, em Lisboa; o urbanista e geógrafo Jacques Lévy, entrevistado por Sofia Steinvorth, fala das cidades, das pessoas e das suas vidas quotidianas, das sociedades abertas, da democracia e de «serendipidade»; publica-se a terceira e última parte da colaboração entre o escritor Gonçalo M. Tavares e o grupo de artistas-arquitetos Os Espacialistas; e o jornalista António Costa Santos escreve sobre a palavra “super”.